quinta-feira, 20 de novembro de 2014

O mapa da discórdia

Tenho visto variadas teses que "comprovam" o racha que essa eleição presidencial deixou no Brasil. Algumas extrapolam para o campo delirante do separatismo puro e simples. Geralmente esses argumentos vêm ilustrados com mapas parecidos com esse:



Pois bem, basta um pouco (mas pouco mesmo) de análise cognitiva para perceber que a conclusão que obtemos ao olhar para esse mapa é que ele nos mostra apenas em quais estados cada candidato venceu, através da conquista da maioria dos votos. Apenas isso.
Se quisermos fazer uma análise mais profunda e séria da geografia social dos votos nessas eleições é bem importante estar atento a outros recortes.

Por exemplo: Dilma venceu em 3.527 dos municípios brasileiros, enquanto Aécio derrotou a candidata do PT nos outros 2.043. Existem concentrações de ambos em determinadas regiões, mas o G1 criou uma visualização que, mesmo se valendo da dicotomia azul e vermelho para determinar onde cada um venceu, nos dá um panorama muito mais mesclado do resultado.




O Estadão também nos brindou com um belíssimo trabalho na mesma linha, usando um mapa de gráficos com relevos.



Para uma outra leitura (e mais reveladora) voltemos a divisão por regiões e estados. E de novo à ilusão de que temos uma país dividido entre o norte vermelhinho e o sul azulzinho.

Pois bem, Dilma venceu com 24.569.880 votos no Norte e Nordeste, mas Aécio teve 11.343.994 nessas regiões. Agora, no Sul, Sudeste e Centro-Oeste Aécio venceu com 39.545.418 votos, mas Dilma somou 29.882.106. Esses números garantem que não houve uma única região ou estado brasileiro onde a disputa tenha terminado 100% a 0%.

Para visualizar essa forma menos dicotômica de enxergar as coisas o pesquisador da Unicamp Thomas Conti criou o interessante mapa abaixo, que circulou em peso pelas redes sociais. Perceba que nele não se chega a ter predominância de vermelho ou azul em nenhum estado. O que vemos são tons que variam dentro de um espectro de bordô e lilás.



A infografia cartográfica é uma importante forma de visualizar geograficamente aspectos sociais e culturais, mas não é a mais precisa para esse fim. Pode nos trair e criar ilusões regionais perigosas.

O mapa dicotômico azul e vermelho por estados está errado? De forma alguma. Mas ele serve apenas para um fim: mostrar em quais deles cada um venceu. Agora, tanto os mapas do G1 e do Estadão, como o do Thomas, são formas mais avançadas de exemplos do uso dessa ferramenta para medir essas nuanças, mesmo que não se aprofundem na verdadeira sociologia dos votos.

Dizer que quem está em determinada região é burro por ter eleito esse ou aquele candidato só reforça nossa limitada capacidade de entender o mundo fora de critérios que nos são impostos. Ignorar a complexidade da sociedade em que vivemos e deixar a coisa toda mais maniqueísta parece ser mais fácil e confortável, mas não é racional.

Dessa forma, onde muitos enxergaram divisão, eu só vi democracia.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Somos todos culpados

Nós, brasileiros, não gostamos de democracia.

É até compreensível para uma nação que, em mais de 500 anos de existência, deve ter experimentado uns 40, no máximo 50 anos de regime democrático. Mesmo assim sempre picotado e capenga. Baseado no conceito de “somos todos iguais, mas alguns são mais iguais do que os outros”.

De qualquer forma, o progresso sempre foi para poucos de nós e a ordem… ah, a ordem. Essa nunca veio pelo diálogo, pelo respeito a opinião alheia, pelo debate civilizado… tudo como ensinam os bons preceitos democráticos. Não, nem sabemos ao certo como é isso.

Ela sempre nos foi imposta pela força.

Mas disso nós gostamos.

Por isso aplaudimos o policial truculento e sem preparo quando ele mantém quem queremos no seu devido lugar, vibramos com as palavras incendiárias de uma jornalista(?) que pede para não termos misericórdia com o marginal amarrado em um poste e apoiamos os tais black blocs, ou seja lá quem revoltado for, quando saem às ruas para dar um jeito, na marra, nesse "sistema podre e injusto".

Somos intransigentes. Nos ensinaram a sermos desse jeito e assim queremos ser. Sim, todos nós. 

Alguém morreu nesta segunda-feira. Um trabalhador. De forma estúpida, covarde e sem sentido. Morreu por culpa dessa intransigência. Dessa vontade de resolver nossas mazelas seculares de forma imediata e pela força.

Mas não foi simplesmente um trabalhador, um cinegrafista, que morreu nesta segunda-feira. Foi um brasileiro.

E quem o matou foram outros 200 milhões de brasileiros. 

Nós.

Uma nação inteira de assassinos irresponsáveis. 200 milhões de culpados. Justiceiros intolerantes e sem remorso. Oportunistas e dissimulados. Preconceituosos e provincianos.

Jagunços imediatistas.

Não foi o primeiro que matamos. Nós sabemos disso. Aliás, outros brasileiros estão sendo assassinados por nós neste exato momento. Milhares.

E não estamos nem aí.

Afinal, somos bons em matar brasileiros. Somos melhores nisso do que no futebol ou na música. Esse é nosso principal talento. Praticamos muito nesses últimos 500 anos, simplesmente por que é dessa forma que sempre tentamos resolver nossos problemas.

Você é negro? Bum. Você é gay? Bum. Você é pobre? Bum. Você é playboy? Bum. Você é manifestante? Bum. Você é policial? Bum. Você é bandido? Bum.

Você é cinegrafista e está fazendo seu trabalho onde não foi chamado? Bum.

… 

Mas mesmo assim ainda tentam nos empurrar essa tal democracia. Que coisa difícil essa. Analisar, dialogar, cobrar, votar… pensar. Nossa, muito trabalho. 

Bom, nós até podemos tentar essa coisa se for do nosso jeito: cada um sabendo o seu devido lugar. Sem ladainha. Para isso vamos eleger outros brasileiros que pensam exatamente como nós. Aí, sim. Caso contrário:

Bum.

domingo, 8 de setembro de 2013

Portfólio - Época

Em comemoração aos 50 anos do icônico calendário Pirelli a revista Época publicou um ensaio super-especial dos bastidores da sua mais recente edição. Como o tema das fotos girava em torno do contraste preto e branco, tanto na estética das roupas das modelos como na próprias fotos, resolvi fazer duas opções para sua abertura. A primeira com uma foto P&B e outra com uma versão colorida, mas bem dessaturada. A segunda opção foi a publicada. Revista Época ed. 795 (setembro de 2013)




Para esse divulgar esse trabalho também roterizei, criei a identidade visual e dirigi um teaser trailer que serviria para divulgar a matéria na internet. A edição do vídeo ficou a cargo de Pedro Schimidt.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Portfólio - Época

Eu adoro metalinguagem. Por isso quando surgiu a ideia de fazermos uma matéria sobre nossas pequenas escolhas automáticas do dia-dia e como isso influencia a forma como vivemos sem que notamos, logo pensei no filme Mais Estranho que a Ficção, com Will Ferrell. Sua estética se encaixava perfeitamente na proposta da matéria, com números e grafismos pulando na tela, infografando as situações cotidianas do personagem principal.


Como também tínhamos a nossa personagem, uma executiva chamada Renata Franco, que vivia um dia cheio cheio dessas pequenas escolhas, resolvi adotar uma solução parecida com a do filme. Sendo assim a talentosa fotógrafa Camila Fontana foi designada para acompanhar Renata em um dia comum de sua vida. Depois, munido das informações apuradas pela repórter Julia Korte, criei uma sequência que foi espalhada pela matéria toda, devidamente ilustrada com dados que mostram as escolhas do dia feitas pela personagem (essa sequência havia sido prevista para correr em páginas duplas, mas com a entrada de novos anúncios na revista ela teve que ser rediagramada para páginas simples).

Para a abertura da matéria reservei algo mais especial. Renata foi levada para um estúdio onde foi feita uma série de fotos suas com uma produção mais elaborada. Foi aí que abusei da metalinguagem. Todas as escolhas feitas para a foto, desde do vestido, passando pela luz e equipamentos usados pelo fotógrafo Rodrigo Schmidt, até a decisão final de qual foto seria usada por mim, estão desnudadas numa espécie de infográfico. O resultado foi um metadesign que tornou a matéria bem divertida. (Revista Época ed.797 (setembro de 2013)







sábado, 24 de agosto de 2013

Portfólio - Época

Para a matéria A comida do Futuro, capa da edição 794 da Época, ficou decidido que ela seria didivida em retrancas, ou matéria e sub-matérias, para isso busquei algumas ideias de fast-food em bancos de imagens para servir de referência para as fotos.

Aproveitando o gancho do hambúrguer sintético recém descoberto a ideia era criar um cardápio completo de uma típica refeição de lanchonete usando outras novidades gastronômicas: pão sem tigo, leite anti-alérgico e... insetos. Sim, insetos e larvas talvez estejam no cardápio das futuras gerações.

Para as fotos convidamos o experiente fotógrafo Dulla que, juntamente com o produtor Felipe Monteiro, nos ajudou a produzir as imagens das delícias que ilustram a matéria. Revista Época ed. 794 (agosto de 2013)





Entrevista para o blog NoMiolo

Entrevista que dei para a querida Nathália Halcsik, publicada no seu Blog NoMiolo, uma ótima referência para quem gosta de design editorial.

É com muito orgulho que hoje o NOMIOLO apresenta sua primeira entrevista. E para começar com o pé direito, nada melhor que o personagem ser Alexandre Lucas, 40 anos, Editor-Executivo de Arte da Revista Época e um dos grandes nomes do site Faz Caber. Preparem-se para uma aula nada básica de design editorial!


"Design é conteúdo e não dá para 
imaginar uma publicação de qualidade 
hoje em dia que não leve isso a sério".



Alexandre, qual sua formação?
Eu estudei design gráfico. Também frequentei cursos como comunicação social e ciências sociais, mas sem me formar. Também fiz diversos cursos técnicos como ilustração artística e publicitária, design digital e vídeo. De qualquer forma considero meus 20 anos dentro do mercado editorial a minha melhor escola, onde convivi e aprendi com grandes diretores de arte e alguns dos mais renomados profissionais do jornalismo. Não desconsidero a essencialidade da formação acadêmica, mas em comunicação nada será mais valioso do que a prática na minha opinião. 

Você pode descrever sua trajetória até chegar na revista Época?
Comecei estagiando em uma empresa de cursos por correspondência. Isso a muuuito tempo atrás. Quem lia revistas em quadrinhos nos anos 80 vai se lembrar. Eu era assistente de arte e criava peças de divulgação e o material didático. Tudo numa época em que a diagramação (design era uma palavra ainda um tanto distante do mundo editorial) era feita a mão, numa técnica chamada past-up. Após isso fui trabalhar na Editora Globo como colorista de quadrinhos da turma da Mônica. Também de forma artesanal, com pincel e um guache especial. Sério. E adorava. Como sempre fui apaixonado por quadrinhos foi um momento muito divertido. Cheguei até a acreditar que seguiria carreira nessa área. Mas logo chegaram os primeiros Macs e fui transferido para uma empresa que fazia a mesma pintura de forma digital, numa versão embrionária do Photoshop. Uma revolução para a época. Foi lá que voltei a ter contato com design, só que dessa vez no computador. Era o momento do QuarkXPress e PageMaker, na era paleolítica do design editorial. Lá trabalhei com peças publicitárias e revistas customizadas. Quando a Editora Globo implantou os Macs para suas revistas eu voltei, dessa vez como designer. Após ter trabalhado para inúmeras revistas da empresa, como Crescer, Globo Ciência (antiga Galileu), Marie Claire, Destino, entre outras, recebi o convite para fazer parte do projeto para uma nova publicação semanal de informação. Essa revista era a Época e lá se vão 15 anos.

Você sempre quis trabalhar com design editorial?
Minha paixão sempre foi a criação de maneira geral. Desde garoto eu fazia meus próprios quadrinhos (dobrando folhas sulfites montava minhas próprias revistinhas com personagens que eu mesmo criava). Outra coisa que adorava era ficar admirando e analisando todos os outdoors que via pela rua enquanto passeava de carro com a família (leis como a Cidade-Limpa de São Paulo não permitiriam isso hoje...rs).  Observava a ideia, as cores, a composição e até os tipos usados. Na adolescência registrava os eventos da minha turma de amigos numa espécie de fanzine bem artesanal. Eu fazia o design, ilustrações e ainda escrevia os textos, tudo na mão pois computador ainda era coisa de banco naquela época. Um outro amigo tirava cópias em xerox e distribuímos a todos. E aquilo me deixava entusiasmado. De alguma forma eu sabia que iria trabalhar com comunicação um dia. E o design editorial me parecia perfeito pois unia a forma e o conteúdo.

Como é seu processo de criação na direção de arte de uma revista semanal?
Gosto de discutir a pauta para perceber se existe algo que podemos extrair dela. Como o tempo é curto o ideal é manter o foco nas matérias que rendem mais possibilidades visuais. Quanto mais intimidade com ela melhor será o resultado. Costumo afirmar que estou ali para ajudar no processo de compreensão do tema e, de quebra, tentar deixar tudo mais atraente. Não que o resto seja menosprezado. Procuro zelar pela elegância de toda a edição e já ganhei fama de chato por isso... rs. Venho de um tempo onde o departamento de arte era considerado apenas uma área de apoio do jornalismo. Isso se devia ao fato desse aspecto ser estruturado como algo estritamente industrial naquele tempo. Era algo técnico, somente. Muitas vezes ali se ganhava o tempo perdido em outras etapas. Hoje isso mudou em muito aspectos. Os recursos tecnológicos à disposição nos permitiram manter a linha de montagem funcionando e ainda abrir espaço para a criatividade. Isso sem contar que os designers são mais especializados. Design é conteúdo e não dá para imaginar uma publicação de qualidade hoje em dia que não leve isso a sério.

Quais revistas pra você, possuem um bom projeto gráfico?
Sou um fã da Esquire americana. Sempre a considerei uma bíblia do design editorial com sua edição de arte meticulosa atenta aos mínimos detalhes, a chamada micro-edição visual. Outras que me impressionam são a New YorkerBloomberg BusinessNew Republic e a WiredTrabalhar com revistas de hardnews também me fez apreciar outros tipos de projetos, aqueles mais cleans e funcionais, numa linha mais fine design como The New York Times Magazine e The Hollywood Reporter. Também adoro ver alguns experimentalismos e rupturas como a Metropoli. Porém atualmente projetos gráficos inovadores se tornaram corriqueiros. A cada dia descubro um novo. Principalmente lá fora. Não dá para imaginar uma revista que permaneça mais de 2 anos com o mesmo projeto hoje em dia. Podem até chamar isso de tática desesperada mas a verdade é que temos que disputar a atenção com coisas mais instigantes. As velhas fórmulas monolíticas de design editorial já deram o que tinham que dar.


Quais são os detalhes fundamentais na criação de uma boa página?
Sempre digo que entender do que se trata a matéria já abre um bom leque de possibilidades visuais, pois ajuda a decidir desde a linguagem fotográfica até os grafismos que vão estar nela. Uma boa conversa com quem vai escrevê-la pode ajudar a descobrir alternativas para sair da fórmula texto/foto (assim é possível descobrir a descrição de um esquema, de uma localização geográfica ou uma amostragem de dados que seriam melhores aproveitados na forma de um infográfico, por exemplo). Na parte técnica sempre considero os cuidados com a micro-edição indispensáveis. Saber onde aplicar cores e linhas, definir decorações e até onde o texto pode ser bold ou itálico fazem uma diferença brutal no conjunto da coisa. Evitar abusar das pequenas "mágicas" como recorte de foto, text wrap (aqueles recuos no texto) e o famigerado drop shadow também deixam a página mais elegante.


"Gosto de discutir a pauta para 
perceber se existe algo que podemos 
extrair dela. Quanto mais intimidade 
com ela melhor será o resultado."


E os piores erros de diagramação?
Acho que até já disse na resposta anterior mas a falta de micro-edição visual me incomoda muito. Faz um layout parecer ter sido feito em um processador de texto. Os textos ficam chapados e jogados sem nenhum tratamento, causando uma monotonia que deixa a revista com um ar amador. Sem contar que a perda não é só estética. Esse acabamento mais detalhado muitas vezes ajuda a hierarquização das informações, principalmente em quadros e infográficos. Outra coisa ruim é o desleixo com colunagens. Erro básico, mas ainda corriqueiro. Mas nada disso supera um recuo no texto (o tal text wrap) que o torna sua passagem tão estreita que ele fica quase ilegível ou um drop shadow cafona aplicado sem contexto algum. Dói de ver.
O que você busca de um profissional que quer trabalhar com design editorial?
Um bom designer editorial tem que entender que nosso trabalho é técnico e criativo ao mesmo tempo. Não dá para ser somente um. Além de zelar pela estética ele tem que estar atento aos nós da produção. Levando também em consideração o que disse sobre o design ser conteúdo acredito que um bom designer editorial deva ser alguém bem informado, não só sobre o que lhe interessa mas em relação a tudo. Entender melhor o big picture pode ser um diferencial na hora dar o certo peso as coisas e criar um bom projeto. Ainda mais em produtos jornalísticos onde a informação é o alicerce.


Um tema muito em pauta ultimamente é o futuro dos impressos, como você vê isso?
É tudo muito incerto e inóspito. É fato que as publicações impressas perderam - e continuam perdendo - a relevância que tinham, mas mesmo assim não acredito que desaparecerão tão cedo. Eu sei que a crise do mercado de revistas e jornais está se acentuando e negar isso é loucura, mas faço a seguinte analogia: imagine uma esponja encharcada dentro de um copo. Se você começar a comprimi-la vai jogar a água para fora e o seu tamanho vai ficar menor, só que se continuar comprimindo em determinado momento não vai mais conseguir empurrá-la pois chegará ao limite de sua massa original. Dali não passa. Então imagino que esse seja o fôlego de mercado que cada publicação terá. Sua estrutura e tiragem vão ter que ser adaptadas a ele. Não imagino um futuro próximo de grandes publicações, com milhões de leitores espalhados pelo país todo, e sim, de revistas segmentadas e regionais publicadas por estruturas menores, talvez pequenas editoras ou algo do tipo e não mais por grandes complexos editoriais. Talvez por algum tempo ainda existirão pessoas interessadas em produtos assim. O quanto isso duraria eu também não sei, mas me parece mais real. Só que isso é puro exercício de futurologia. Agora o que eu acredito de verdade é que essa crise não é da comunicação e, sim, do modelo e do formato. O que acontece com a informação hoje em dia não tem paralelo na história. Eu, por exemplo, nunca consumi tanto conteúdo na vida como agora. E olha que já fui um voraz comprador de revistas e jornais, e mesmo assim não tem comparação. Hoje leio veículos que não tinha o menor hábito em ler e alguns que nem conhecia, como publicações de outros estados e até de outros países. A internet possibilitou isso e acho que estamos apenas no começo. Por isso não quero ser aquele que fica parado olhando de longe e resmungando que todo mundo hoje em dia se acha designer, jornalista, fotógrafo, etc... quero estar no bololô e ver onde isso vai dar. Como ganhar dinheiro nisso? Esta aí outra coisa eu não sei, mas se tem um fundamento do marketing que dificilmente mudará tão cedo é aquele que diz que, se você tiver uma marca forte e de grande alcance, outras marcas vão querer suas estar associadas a ela. Só que para ser popular com tanta competição você tem que ser bom e inovar... de verdade. Fazendo mais do mesmo é que não vai rolar.


"É fato que as publicações impressas 
perderam - e continuam perdendo - a 
relevância que tinham, mas mesmo assim 
não acredito que desaparecerão tão cedo".



E pra finalizar, em quem você se inspira no universo do design gráfico?
No design editorial o grande mestre da atualidade, sem dúvida nenhuma, é Arem Duplessis, diretor de design da The New York Times Magazine. A elegância do fine design que confere às capas e projetos é sempre inspiradora. Gosto também da inquietação do Richard Turley, diretor de arte da Bloomberg Business, e do estilo meticuloso do italiano Francesco Franchi, que faz das micro-edições de seus projetos e infográficos algo admirável. No universo mais amplo do design gráfico as obras de Paul RandSaul Basse Alfons Mucha sempre serão grandes influências.


E aí gostaram? Então, follow Alexandre Lucas!

Blog: http://alucasdesign.blogspot.com.br/

Twitter: https://twitter.com/alucasdesign
Instagram: http://instagram.com/ale_lucas 

 
Agora algumas de suas páginas e ilustrações: 



  


 





  















sábado, 17 de agosto de 2013

Portfólio - Teaser trailers para reportagens

Sou um daqueles que acredita que, em matéria de conteúdo, tudo pode estar interligado hoje em dia. Você não cria algo para o meio impresso ou digital. Cria para uma marca. As pessoas estão hiper conectadas e nada mais pode permanecer em uma ilha. Explorar o potencial publicitário disso também faz parte do jogo.

Pensando nisso ajudei a criar uma nova experiência na revista Época para divulgar reportagens em outros ambientes que não fossem somente o impresso: uma espécie de teaser trailer da matéria, feito em pequenos vídeos com uma pegada mais elaborada e menos formal, sem aquela chatice burocrática do "Leia em Época desta semana...".

Seu potencial pode ser explorado em diversas mídias que vão desde a web, passando pela mídia de rua eletrônica, até a TV e o Cinema.

Confira abaixo os dois primeiros exemplos que, além de criar a identidade visual, eu também dirigi. A edição de video ficou a cargo do mago Pedro Schimidt.

O primeiro, que contou com depoimentos, foi para a reportagem  Tragédia em Santa Maria, 180 dias depois:



Este outro foi para o ensaio fotográfico especial sobre os bastidores dos 50 anos do mítico Calendário Pirelli publicado na revista:

Entrevista com o type designer Peter Bil'ak

Entrevista que fiz com o designer de tipos Peter Bil'ak para o blog Faz Caber, em fevereiro de 2013.

Se algum dia você pensou em transmitir uma mensagem escrita de forma clara certamente se preocupou com o desenho da letra que usaria. Mais do que apelo estético um belo tipo pode estimular sensações e influenciar a forma como nos comunicamos. Por essa razão designers amam tipografia. Não poderia ser diferente. E é para discutir, trocar experiências, aprender e até mesmo celebrar essa paixão que vai acontecer em São Paulo, entre os dias 19 a 25 de março, o Tipocracia. O evento chega a sua décima edição - que recebeu o codinome ]tpc10[ - e vai contar com palestras, workshops e muitas discussões sobre o universo tipográfico -  sua história, tendências e novas tecnologias.



Entre as atrações nacionais e internacionais está Peter Bil’ak, respeitado designer nascido na antiga Tchecoslováquia e que hoje mora na Holanda. Especializado em tipografia e professor da Academia Real de Haia, entre seus projetos está o estúdio Typotheque, a revista Dot Dot Dote a Indian Type Foundry,  focado em tipos indianos. Conhecedor de mercados que começam a se preocupar mais com design como a China e a Índia, esta será a sua primeira vinda ao Brasil. Ele também está lançando este ano uma curiosa revista chamada Works That Work, na qual vai abordar o que ele define ser “criatividade inesperada”. Peter respondeu algumas perguntas para mim sobre tipografia, design, criatividade e até mesmo sobre atual momento do mercado editorial.

No Brasil tipografia ainda é vista como algo de pouca relevância fora do meio design. Mesmo no mercado editorial todos sabem da necessidade de um belo tipo porém poucos realmente se preocupam em dar atenção a esse aspecto. Qual é a importância da Tipografia nesse atual momento e como demonstrar esse seu papel?
Peter Bil'ak: Nos deparamos com tipografia várias vezes ao dia. Não podemos fugir dela. Ela está em tudo ao nosso redor: não só em livros, revistas e jornais, mas também em nossas telas, tablets, telefones celulares, TV, etc.  É como o ar: você não pensa muito sobre isso quando ele está bom, mas quando a qualidade cai ficamos incomodados. Da mesma forma notamos os tipos. Infelizmente, assim como o ar ruim de cidades como Pequim por exemplo, quando expostos a maus exemplos por muito tempo acabamos nos adaptando e eles tornam-se a regra. Por outro lado, quando se vê o céu claro (ou um tipo bem usado) você não troca por nada. Na Holanda, onde eu moro, a maioria dos jornais, dicionários e os principais veículos de informação são muito bem desenhados, algo que cativa o público e torna a vida um pouco mais agradável.

Muito se fala em design thinking e cérebros criativos. Você mesmo está lançando uma revista sobre "criatividade inesperada". Mas justamente neste momento difícil em que se encontra, o mercado editorial sofre uma espécie de crise criativa. Isso se deve a fórmula que se esgotou ou a falta de ousadia para apostar em novas ideias?
Peter Bil'ak: A cena editorial mudou e alguns editores que estavam acostumados ​​com as antigas condições têm mais dificuldades de se adaptar à nova situação. A economia mudou também assim como os padrões de leitura dos leitores. As pessoas têm cada vez menos tempo para se concentrar então editores lutam pela atenção delas com formas bombásticas e espetaculares de apresentar a informação. Com isso esquecemos de que, em sua essência, a leitura é uma experiência muito íntima e nós temos que respeitar o leitor.
Ao iniciar a revista Works That Work é claro que focamos o conteúdo, mas sem se esquecer de olhar para todos os aspectos da publicação, como a colaboração entre quem escreve, quem edita e quem publica. Para isso desenvolvemos uma plataforma de publicação que facilitou essa colaboração e permitiu manter um única fonte de texto que nós podemos publicar tanto no impresso, no online ou em ebooks. Tivemos também que investir em nossa web, que é o ponto de partida para se descobrir o projeto, e  repensar a relação com os nossos leitores. Eles não são apenas indivíduos anônimos. São parceiros da revista. Eles financiaram o projeto antes mesmo que ele existisse e agora aprofundamos esta relação. Assim os leitores se tornam nossos distribuidores - e em troca eles são recompensado por seus esforços. Tentamos procurar a rota mais curta do editor para o leitor, evitando os intermediários.



Por muito tempo o "leitor" era uma figura abstrata nas redações. Uma síntese de anseios que se confundiam com nossas próprias convicções e expectativas. Graças a internet hoje essa entidade tem voz e muitas vezes ela fala alto. Sempre é dito que devemos nos encontrar com esse leitor. Escutá-lo. Se ele está aí e mesmo assim muitas vezes não os estamos escutando, o que está acontecendo? Estamos falando línguas diferentes?
Peter Bil'ak: Trabalhar em equipes grandes, sob pressões comerciais e pouco tempo, pode levar a um pensamento esquizofrênico onde não se sabe se está fazendo o melhor trabalho, mas se convence que é o que o público quer. Nós subestimamos o leitor e esquecemos que todos nós somos leitores.
Felizmente, hoje, é mais fácil do que nunca se conseguir a interação real entre quem produz e quem consome conteúdo. E até mesmo trocar de papéis às vezes. Ao tratar os nossos leitores não apenas como consumidores passivos eles podem até contribuir para a publicação também.

Eventos de design como o Tipocracia e outros que acontecem no Brasil ainda são iniciativas espartanas, muitas vezes conduzidas pelos próprios profissionais interessados no amadurecimento da area. Europa e Estados Unidos já estão a anos-luz na nossa frente nesse aspecto. Chegamos tarde demais ou isso é um sinal de que o Brasil está se tornando um major player no campo do design mundial?
Peter Bil'ak: Eu não estou familiarizado com o Brasil e seu cenário cultural, mas a partir de minhas experiências em outros lugares como a China ou  Índia eu vejo que o design se torna cada vez mais importante e as pessoas percebem que querem ser parte importante do mundo (e não apenas sua parte "mão-de-obra"). Eles procuram encontrar sua própria voz, sua identidade própria e o design ajuda nessa emancipação. Nós esquecemos de que "design" não é somente alguns objetos legais em algum museu , mas praticamente tudo o que é feito por seres humanos. Estive viajando para a Índia nos últimos 6 anos e presenciei um progresso incrível e um aumento de interesse em objetos bem desenhados e processos. Seis anos atrás era difícil de explicar o que eu faço, agora eu me encontro com centenas de jovens designers com espírito empreendedor. Me deparo com discussões sérias sobre o papel dos designers, publicações, palestras, etc.  Eu imagino  que algo semelhante deva estar acontecendo no Brasil e eu estou muito curioso para ver isso pessoalmente.



O que é mais importante no trabalho: conhecimento técnico, espírito empreendedor ou criatividade inesperada?
Peter Bil'ak: Como você pode imaginar todas as três partes são importantes e vitais, principalmente se você trabalhar por conta própria. Mas se alguém quer ser um especialista trabalhando dentro de uma organização pode ser uma boa escolher apenas uma.