segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Somos todos culpados

Nós, brasileiros, não gostamos de democracia.

É até compreensível para uma nação que, em mais de 500 anos de existência, deve ter experimentado uns 40, no máximo 50 anos de regime democrático. Mesmo assim sempre picotado e capenga. Baseado no conceito de “somos todos iguais, mas alguns são mais iguais do que os outros”.

De qualquer forma, o progresso sempre foi para poucos de nós e a ordem… ah, a ordem. Essa nunca veio pelo diálogo, pelo respeito a opinião alheia, pelo debate civilizado… tudo como ensinam os bons preceitos democráticos. Não, nem sabemos ao certo como é isso.

Ela sempre nos foi imposta pela força.

Mas disso nós gostamos.

Por isso aplaudimos o policial truculento e sem preparo quando ele mantém quem queremos no seu devido lugar, vibramos com as palavras incendiárias de uma jornalista(?) que pede para não termos misericórdia com o marginal amarrado em um poste e apoiamos os tais black blocs, ou seja lá quem revoltado for, quando saem às ruas para dar um jeito, na marra, nesse "sistema podre e injusto".

Somos intransigentes. Nos ensinaram a sermos desse jeito e assim queremos ser. Sim, todos nós. 

Alguém morreu nesta segunda-feira. Um trabalhador. De forma estúpida, covarde e sem sentido. Morreu por culpa dessa intransigência. Dessa vontade de resolver nossas mazelas seculares de forma imediata e pela força.

Mas não foi simplesmente um trabalhador, um cinegrafista, que morreu nesta segunda-feira. Foi um brasileiro.

E quem o matou foram outros 200 milhões de brasileiros. 

Nós.

Uma nação inteira de assassinos irresponsáveis. 200 milhões de culpados. Justiceiros intolerantes e sem remorso. Oportunistas e dissimulados. Preconceituosos e provincianos.

Jagunços imediatistas.

Não foi o primeiro que matamos. Nós sabemos disso. Aliás, outros brasileiros estão sendo assassinados por nós neste exato momento. Milhares.

E não estamos nem aí.

Afinal, somos bons em matar brasileiros. Somos melhores nisso do que no futebol ou na música. Esse é nosso principal talento. Praticamos muito nesses últimos 500 anos, simplesmente por que é dessa forma que sempre tentamos resolver nossos problemas.

Você é negro? Bum. Você é gay? Bum. Você é pobre? Bum. Você é playboy? Bum. Você é manifestante? Bum. Você é policial? Bum. Você é bandido? Bum.

Você é cinegrafista e está fazendo seu trabalho onde não foi chamado? Bum.

… 

Mas mesmo assim ainda tentam nos empurrar essa tal democracia. Que coisa difícil essa. Analisar, dialogar, cobrar, votar… pensar. Nossa, muito trabalho. 

Bom, nós até podemos tentar essa coisa se for do nosso jeito: cada um sabendo o seu devido lugar. Sem ladainha. Para isso vamos eleger outros brasileiros que pensam exatamente como nós. Aí, sim. Caso contrário:

Bum.