terça-feira, 3 de junho de 2008

A ordem agora é "esquirizar"


Que tendências e design sempre andam juntos todos sabem, mas talvez nem todos percebam que isso também ocorre de forma bastante marcante no design gráfico de revistas. Principalmente aqui no Brasil.
Se alguns anos atrás revistas como Wallpaper e Wired eram as referências máximas para quase todo designer da área editorial, hoje o objeto gráfico de desejo é a americana Esquire. Eu sempre fui muito fã do projeto gráfico dessa revista, que na minha opinião é ousado sem abrir mão da elegância. Suas fontes, que oscilam sem pudor algum entre o Black mais denso ao Thin mais discreto, dão um forte toque de sofisticação às matérias. Junte a isso belas fotos, ilustrações certeiras e sacadas geniais em criação (cada capa é uma obra-prima) e eu posso afirmar que a Esquire sempre esteve no topo do design gráfico editorial.


Wallpaper e Wired: outras publicações estrangeiras que já estiveram na "moda"


Bom... parece que as revistas brasileiras descobriram isso também. É fácil perceber uma forte onda de “esquirização” no design de diversas publicações nacionais. Em algumas delas isso até que caiu bem como é o caso da VIP ­– que sempre foi uma espécie de “priminha distante” da Esquire e recentemente assumiu isso descadaramente com a reformulação de seu projeto gráfico – e da recém-lançada Época São Paulo – totalmente “esquirizada” e que conta hoje com um dos projetos gráficos mais bonitos entre as revistas brasileiras.


"Esquirização": algumas revistas brasileiras que já aderiram


A Esquire tem um visual bem pensado e serve bem ao propósito de uma revista de comportamento e serviços destinado a um público de gosto refinado. Mas fica a dúvida quando essa “esquirização” é tirada do contexto e aplicada em revistas de negócios ou automóveis, por exemplo. Ali e o visual parece “pesado” e cansa a leitura. Salvo aí o exemplo da revista Época que aplicou uma linguagem tipográfica parecida mas com a sobriedade que uma revista semanal exige. Ela contrasta o peso da fonte com muitos “brancos” nas páginas dando um efeito visual agradável no final. De qualquer forma ainda nota-se o "padrão Time”, outra revista gringa bastante copiada por aqui, mas essa é outra conversa.

O pior disso tudo é o famigerado “efeito gado”. Todos passam a usar um conceito que está em alta, na maioria das vezes tirando-o do contexto e fazendo com isso que ele fique saturado. Isso acaba esgotando o estilo e logo ele é descartado. Isso é um fenômeno não raro no mercado editorial brasileiro e talvez seja fruto de nossa “Síndrome de Colônia”. Se no mercado original dela, o americano, a Esquire é apenas um entre os diversos projetos gráficos editoriais interessantes, aqui nós o copiamos e aplicamos sem a mínima vergonha em qualquer circunstância, limitando a criatividade dos profissionais em atuação e diminuindo a pluralidade visual das revistas brasileiras.

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